Rastro dos Bichos
Rastro dos Bichos é uma série documental sobre animais do Brasil,ameaçados de extinção. Sem separar natureza e cultura, abordamos (em 5 episódios de 26 minutos) cada um dos animais e suas relações com os seres humanos – dos quais compartilham uma comunidade ecológica: o lobo-guará e diversas comunidades do cerrado mineiro; a arara-azul-de-lear e os povos sertanejos e Pankararé na caatinga baiana (BA); o boto e os caiçaras e quilombolas da Baía da Guanabara e Sepetiba (RJ); o mico-leão-dourado e as comunidades rurais e remanescentes de quilombos da Mata Atlântica de Silva Jardim (RJ); a onça-pintada que vive junto a comunidades pantaneiras e ao povo Guarani-Kaiowá (MS).
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA:
Livre
GÊNERO:
Documentário
REGIÃO:
Norte
NÚMERO DE EPISÓDIOS:
5
DURAÇÃO MÉDIA DOS EPISÓDIOS:
26
DIREÇÃO:
Sérgio Lobato
SOBRE A DIREÇÃO:
Sérgio Lobato: Diretor da série de TV Índio Presente – exibido na EBC/TV Brasil, TV Cultura e Canal Futura/Globosat (13 episódios), e diretor do Telefime Caçada Fulni-ô Ancine/BRDE. Diretor premiado como Melhor Filme pelo Público e Prêmio Especial do Júri com o curta metragem: Mopo’i: O Menino Manoki no 18º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá e prêmio de Melhor Áudio com o curta-metragem Pamoari na Cidade pelo 1º Festival Etnográfico Théo Brandão de Vídeo e Fotografia, Maceió. Há 25 anos desenvolve projetos audiovisuais com temática socioambiental e direitos humanos.
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1 - Arara Azul de LearO Raso do Catarina é uma ecorregião circunscrita na caatinga baiana, que já foi palco do conflito de Canudos e refúgio de cangaceiros. Lá é o habitat da arara-azul-de-lear. Diferente da arara azul e da ararinha-azul, esta espécie é envolta em controvérsias que ultrapassam o Atlântico. Intensamente traficada para a Europa, ela foi tida como extinta no seu habitat, e só foi reencontrada em 1978 por sertanejos que guiaram o ornitólogo Helmut Sick a uma população de apenas 21 indivíduos. Nesse contexto, o fotógrafo Adriano Gambarini reflete sobre a luz da caatinga e, por meio dela, segue os rastros da arara, conversando com os filhos dos sertanejos que fizeram o contato com ave há 45 anos e até hoje trabalham na sua preservação. Atualmente, são mais de 1200 indivíduos de arara-azul-de-lear e, assim como o povo sertanejo, as araras resistiram bravamente. Os caminhos levam ao povo indígena Pankararé e seus encantados que podem ver a caatinga de cima: deles dependem a vida dos humanos e dos bichos.
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2 - Mico Leão DouradoNos dias de hoje, o único lugar do mundo que o mico-leão-dourado vive em liberdade está restrito a alguns fragmentos de Mata Atlântica em poucos municípios, sendo um deles Silva Jardim-RJ. É para lá que o fotógrafo Adriano Gambarini vai para compreender a bem-sucedida participação de diferentes agentes sociais locais que, cada um à sua maneira, potencializam a preservação do mico-leão. Um deles é a bióloga Andréia Martins, mulher negra, cuja ancestralidade quilombola remete às origens da ocupação da região. Com seus radiotransmissores, Andréia monitora os hábitos e costumes do mico e consegue se comunicar com eles, afinal são 38 anos dedicados à espécie. Do som dos radiotransmissores passamos às imagens gravadas dos micos atravessando o primeiro viaduto vegetado do Brasil. Seguindo os rastros do animal, Adriano chega ao Mineiro Pau, grupo de dança com bastões, fundado em 1952 em Silva Jardim, onde o mico tem lugar reservado no seu estandarte.
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3 - Onça PintadaNo terceiro episódio de Rastro dos Bichos viajaremos para o Pantanal em busca da onça-pintada – o maior felino das Américas. Venerada por pesquisadores que dedicam suas vidas à conservação da espécie, respeitada e temida pelos povos indígenas e caboclos no interior do Brasil, a onça teve capítulo importante na obra de Adriano Gambarini, que já fotografou muitas vezes o animal. Adriano reencontra a guia pantaneira Eliane Rocha e seguem o rastro de uma pegada de onça na Fazenda San Francisco, em Miranda-MS. De lá, Adriano segue para Dourados para visitar alguns tekohá (acampamentos sagrados) do povo Guarani-Kaiowá, guiado pelos jovens Kiki, Gilearde e pelo pajé Kagwai - que ensina ao fotógrafo maneiras de conversar com a onça. Na cultura Kaiowá a onça é vista de muitas formas, na terra e no céu. Muitas vezes ela é associada à subjetividade canibal do “caçador egoísta”, o jaguaretê-avá (nome que a onça não gosta de ouvir), mas também como key puku, espírito que pode te ajudar a encontrar a caça. Para isso é preciso não apenas identificar a pegada da onça, mas falar com a pegada, porque a pegada também sente. Além disso, é preciso saber as esquivas do benzimento Jerrowasá, que Kiki vem praticando com o pajé Kagwai, para não cair nas armadilhas do poderoso felino.
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4 - Boto CinzaO boto cinza, um dos símbolos do estado do Rio de Janeiro, está extremamente ameaçado com a poluição da costa fluminense. Com o pescador Malafaia, Adriano acompanha o drama dos apenas 23 botos sobreviventes na Baía de Guanabara e de Sepetiba, assolada por poluentes. No topo da cadeia alimentar, o boto é um bioindicador da qualidade do ambiente marinho: onde tem boto, tem peixe, e tem faltado muito peixe. Por outro lado, para o pescador quilombola conhecido como Mineiro, a intensa atividade pesqueira também é responsável pela morte dos botos. É uma questão intricada. A pescadora Lucimar Ferreira reforça que o principal problema é o assoreamento provocado pelo imenso trânsito de navios nas baías. Porém, em meio à desolação, um oásis: os manguezais estão sendo recuperados e protegidos, e são lá que os botos se encontram para namorar.
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5 - Lobo GuaráO lobo-guará é um animal envolto em mistérios, preconceitos e simbolismos. Nem lobo, nem raposa, e mais próximo do cachorro-vinagre, o animal é o maior canídeo das Américas. Considerado o semeador do cerrado, já que sua base alimentar é frugívera, carrega o drama de ser considerado “mau”, pelas histórias infantis e crenças do interior. Nesse episódio, Adriano Gambarini viaja pelo cerrado mineiro onde reencontra seu passado. Na Serra da Canastra-MG ele e o amigo Marcelo saem em busca de um lobo-guará que se camufla no capim amarelo. A viagem termina na Serra do Caraça; onde, aos 15 anos, pela primeira vez Adriano viu um animal selvagem, era o lobo-guará. No Caraça há um antigo colégio eclesiástico construído no século 18 junto a uma igreja neogótica, hoje famoso pela realização de um ritual peculiar envolvendo o lobo: no cair da tarde, os padres servem no adro da igreja uma bandeja com pedaços de frango e frutas que atrai os lobos-guarás do entorno. Enquanto o lobo se aproxima, Adriano conversa com o padre Alexandre sobre a contemplação deste outro tempo onde natureza e cultura estão unidos numa experiência mística.